Fatores de Sucesso ESG: a importância do alinhamento das metas com a estratégia e com o desempenho do Board

Nos últimos anos, a crescente consciencialização sobre as questões ambientais, sociais e de governação (ESG) tem impulsionado uma transformação profunda na estratégia das empresas. A adoção e integração de metas ESG nas operações passou a ser vista como um imperativo, sobretudo se considerarmos a sustentabilidade como um guia estratégico a longo prazo que potencia o acesso a novos mercados, a capital verde, ao cumprimento de requisitos legais, e simultaneamente, reduzindo a exposição da empresa a riscos, perdas e danos reputacionais.

Sabendo que as empresas estão hoje muito mais expostas no mercado e que as agências de ratings desenvolvem metodologias próprias para avaliar o desempenho ESG das empresas, tanto investidores públicos como privados têm vindo a considerar cada vez mais o desempenho destas, no momento de decidir onde alocar capital. 

No entanto, quando olhamos para a realidade nacional, segundo o ´Relatório Jornada 2030: Maturidade em Sustentabilidade das Empresas em Portugal – Retrato Agregado 2021-2023´(*) desenvolvido e publicado pelo BCSD Portugal em 2025 e que avaliou a evolução das empresas signatárias da Carta de Princípios do BCSD, embora a Sustentabilidade seja uma prioridade estratégica, a sua implementação ainda se encontra numa fase muito inicial.  

Estratégia de Sustentabilidade como fator-chave na transformação empresarial

Para a maioria das empresas, os maiores obstáculos à sustentabilidade continuam a estar ligados à ausência de recursos financeiros, técnicos e humanos, bem como ao conhecimento especializado necessário para iniciar e pôr em prática uma Estratégia de Sustentabilidade. É importante sublinhar que uma estratégia de sustentabilidade não se resume a um Relatório de Sustentabilidade, a uma certificação verde ou a políticas ESG genéricas.

Pelo contrário, poderá implicar a realização de um diagnóstico sobre o estado de maturidade da organização e seu posicionamento relativo a pares, tendências e concorrentes diretos, à definição e implementação de uma estratégia ESG que promova valor e vantagem a longo prazo, adaptações ao modelo de governança, reengenharia de processos ou ainda a incorporação de práticas orientadas para a economia circular, impacto social e descarbonização, entre outras iniciativas. Tudo dependerá do nível de ambição e de compromisso que a Organização quererá alcançar. Por essa mesma razão, uma verdadeira transição para a Sustentabilidade requer abertura, compromisso e envolvimento contínuo – sobretudo por parte do Board.

Nas organizações mais maduras o Board é visto como o principal catalisador da integração de fatores ESG na estratégia de negócio, pois é ele que define o nível de compromisso da organização (se compliance mínima, mitigação de riscos ou liderança em sustentabilidade), estabelece metas estratégicas a longo prazo (ex.: neutralidade carbónica, diversidade de género na liderança, ética na cadeia de valor) ou define a cultura organizacional, promovendo a mensagem com intencionalidade em todos os níveis da organização. A atuação do Conselho de Administração é determinante para garantir credibilidade, resiliência e impacto; sem o seu patrocínio ativo, as iniciativas tendem a ser fragmentadas, reativas e de curto prazo. 

Para além da conformidade, uma estratégia ESG abrangente

Uma tendência crescente em países mais maduros, e que poderá crescer à medida que a consciencialização e a maturidade em ESG se consolidam nas empresas portuguesas, consiste em vincular a remuneração do Board ao cumprimento de objetivos ESG. Em Portugal, empresas cotadas como Galp, EDP, Jerónimo Martins e BCP já adotaram esta prática, alinhando a estratégia de sustentabilidade a metas mensuráveis, monitorizando-as regularmente.

Conscientes do impacto das decisões tomadas e quando inseridos numa lógica de responsabilidade coletiva, líderes e colaboradores compreendem que o sucesso da empresa está diretamente ligado ao envolvimento de cada um, e que refletir esses objetivos nos sistemas de remuneração ESG pode funcionar como um verdadeiro acelerador da transformação empresarial. Se para alguns gestores Sustentabilidade é mera compliance, para alguns líderes é competitividade e relevância, num mercado cada vez mais sofisticado e exigente.

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(*) Relatório Jornada 2030: Maturidade em Sustentabilidade das Empresas em Portugal – Retrato Agregado 2021-2023´. Este estudo consistiu em avaliar ao longo de três anos, a evolução de 143 das 245 empresas portuguesas signatárias da Carta de Princípios e Jornada 2030 do BCSD Portugal.